10 Mitos Universais do Mundo Antigo

Independentemente de onde você venha, é provável que conheça mitos fascinantes. Seja a lenda do Rei Arthur e seu amigo mágico, os deuses travessos da Grécia Antiga ou as epopeias incríveis da mitologia hindu, cada cultura possui seu conjunto de histórias que outras nações podem considerar curiosas ou até bizarras. No entanto, alguns mitos parecem se repetir em várias culturas, mesmo quando separadas por milhares de quilômetros e séculos. Esses são os mitos universais, tão presentes em diferentes sociedades que chegam a parecer assombrosos.

O Grande Dilúvio

A ideia de uma inundação que submerge o mundo inteiro surge em quase todas as culturas. Judeus e cristãos conhecem essa história como o Dilúvio de Noé, mas outras versões dessa narrativa certamente antecedem o relato do Gênesis. No Épico de Gilgamesh, da Suméria, encontramos Utnapishtim, que constrói um barco, coloca animais a bordo para escapar da enchente e finalmente repousa em uma montanha. Os gregos também têm uma versão dessa história com Deucalião, que sobrevive a um dilúvio enviado por Zeus. Além disso, variantes desse mito estão presentes em lendas hindus, maias e de povos nativos americanos.

Essa narrativa pode ou não ter uma base real. Em 2009, a National Geographic relatou a falta de evidências para uma enchente global. No entanto, teorias persistem, como a de um possível impacto de cometa perto de Madagascar, que teria gerado tsunamis, ou a de uma inundação causada pelo derretimento de geleiras, que teria afogado a região do Mar Negro. Poderia essa história universal ser a memória desbotada de um evento real que ocorreu por volta de 5.000 a.C.? Talvez nunca saibamos ao certo.

Paraíso Perdido

Assim como muitos já ouviram seus avós falarem com saudade dos “bons tempos”, a nostalgia é uma sensação que transcende gerações. Esse desejo por um passado idealizado, porém, não se restringe apenas a memórias familiares, mas permeia culturas inteiras.

Um exemplo é o Jardim do Éden, a história de um lugar harmonioso, livre de dor e desejos impuros, representando o “passado ideal”. Na Grécia Antiga, havia as eras de Ouro e Heroica, tempos em que o mundo era mais feliz e as pessoas viviam em harmonia. Ideias semelhantes aparecem nas crenças hindus, nórdicas e persas, sempre retratando uma utopia perdida, inacessível para as culturas modernas.

Curiosamente, há uma explicação científica para esse sentimento. Estudos recentes sobre nostalgia indicam que memórias idealizadas do passado podem contribuir para aumentar a felicidade no presente.

Batalhas Cósmicas Épicas

A ideia de uma guerra inimaginável que ameaça destruir o cosmos é tão impactante que continua a influenciar nossas histórias. Obras como O Senhor dos Anéis, Star Wars, Doctor Who e muitas outras se inspiram nesse antigo tema. Na verdade, é um conceito encontrado em quase todas as culturas antigas. No cristianismo, temos a batalha entre Deus e os anjos rebeldes liderados por Satanás. Na Grécia Antiga, os titãs lutavam contra os deuses do Olimpo. A tradição hindu descreve uma série de batalhas tão grandiosas que fariam qualquer cineasta perder o sono.

Existem algumas maneiras de interpretar essa ideia. Alguns sugerem que esses mitos seriam memórias genéticas de algum conflito apocalíptico que dilacerou a galáxia bilhões de anos atrás. Outra explicação é que, ao longo da história, a maioria das culturas esteve à beira de guerras e invasões constantes, fazendo com que a destruição apocalíptica estivesse sempre na mente das pessoas. Seja como for, parece que a inclinação humana para a guerra é algo quase universal.

Vampiros

Se você achava exagerada a onda recente de vampiros nas mídias, imagine viver na Europa Medieval. Naquela época, a crença em vampiros era tão difundida que quase todos os países os consideravam uma terrível realidade. Se as colheitas falhavam, se havia uma seca ou se uma criança nascia com uma leve deformidade, era quase certo que os vampiros eram os culpados – uma tradição que remonta a milhares de anos.

Esses sugadores de sangue sobrenaturais não são uma invenção moderna, nem sequer surgiram nos últimos milênios. Civilizações tão antigas quanto a do Egito Antigo já acreditavam firmemente na existência deles, enquanto versões semelhantes surgem na China, Tibete e Índia. Até os persas da Mesopotâmia tinham seus próprios demônios sedentos de sangue, embora fossem bem diferentes dos vampiros modernos popularizados por obras como as de Anne Rice.

Quando analisamos racionalmente, é fácil ver como a lenda dos vampiros se desenvolveu: o medo da morte combinado com uma grande ignorância médica. Mas, ao relembrarmos essa história em uma noite escura, com um vento assobiando lá fora… bem, talvez seja melhor mantermos nosso estoque de alho em segurança.

O Mito de Atlântida

Todos conhecemos o mito de Atlântida: uma cidade utópica destruída em uma única noite por uma catástrofe misteriosa. Mas Atlântida é apenas a mais famosa das cidades perdidas mitológicas. Histórias quase idênticas surgem com tanta regularidade que é tentador pensar que devem ter uma conexão entre si.

Um exemplo é Iram (também chamada de Ubar), uma cidade lendária nos desertos da Arábia Saudita moderna. Diz-se que Iram foi destruída em uma única noite, soterrada por uma inundação de areia enviada por Alá. Em outras palavras, é o mito de Atlântida adaptado para um cenário sem água. Há também Ys, na costa da França, que supostamente foi inundada no século V por um rei guerreiro mítico. E nem precisamos mencionar as histórias de Sodoma e Gomorra ou o mito hindu de Tripura, que envolvem cidades destruídas em chamas divinas.

Em resumo, a ideia de uma cidade obliterada de uma só vez é tão poderosa que parece surgir em diferentes culturas. Será que essas histórias são tragédias meio esquecidas baseadas em eventos reais (como a erupção de Pompeia) ou apenas narrativas que atiçam nosso fascínio apocalíptico? A decisão fica por conta de cada um.

A Ressurreição de um Deus

A ressurreição de Jesus é um dos grandes pilares do cristianismo, um momento único que o estabelece como o salvador. Mas a ideia de um deus ou figura importante que morre e renasce existe há milênios.

O exemplo mais famoso é o de Osíris, o deus egípcio antigo cujo nascimento foi anunciado por uma estrela, que foi traído por um amigo, assassinado e depois ressuscitado. Existem também versões menos explícitas. No culto grego de Dionísio, o deus era morto a cada dois anos, apenas para renascer mais tarde. Perséfone também passava por ciclos de morte, e muitas tradições pagãs, desde a Escandinávia até a América Central, incluíam deuses que morriam e voltavam à vida ou homens que se transformavam em deidades após a morte.

Um exemplo intrigante é o da “Revelação de Gabriel”, uma tábua histórica que supostamente conta a história de um rebelde judeu chamado Simão, morto pelos romanos, mas ressuscitado três dias depois. A peculiaridade? Ela foi escrita em 4 a.C., mais de 30 anos antes da alegada ressurreição de Jesus. Seria isso um erro de tradução, ou será que o Filho de Deus se inspirou em tradições anteriores?

Dragões

Provavelmente, os dragões são as criaturas mais “viajadas” de toda a mitologia. Mais até do que os vampiros, eles aparecem em culturas e épocas tão distantes que parece quase impossível. Em antigos tabletes sumérios, há relatos de combates com dragões; os gregos contavam histórias de dragões convivendo com outros monstros; e na China, uma ciência inteira se dedicava ao uso de seus ossos. Na América Central, os maias veneravam a serpente emplumada Quetzalcóatl, enquanto as mitologias nórdica e cristã também fazem menção específica aos dragões.

Até o século XIX, alguns cientistas vitorianos acreditavam que os dragões realmente existiram e se extinguiram. Apenas quando os dinossauros se tornaram amplamente conhecidos é que a ideia de que fósseis antigos poderiam ter sido confundidos com dragões ganhou força. Hoje, a principal teoria é que diversas culturas encontraram ossos de dinossauros ao longo do tempo e os transformaram em imensas bestas mitológicas.

A Jornada do Herói

Graças às adaptações cinematográficas, a maioria de nós tem alguma familiaridade com as epopeias de Homero. Consideradas os primeiros exemplos da literatura ocidental, suas obras Ilíada e Odisseia contam histórias épicas de heróis em jornadas tortuosas, cruzando oceanos e continentes em busca de salvação metafórica – e essa estrutura aparece em quase todas as culturas.

Esse modelo é conhecido como “a jornada do herói”, e quase todas as histórias épicas da história seguem essa fórmula específica. George Lucas deliberadamente usou esse modelo no primeiro Star Wars, e seu impacto pode ser visto em obras como O Senhor dos Anéis, os livros de Oz e até Harry Potter. Mas esse mito arquetípico já existia muito antes de antropólogos o definirem para roteiristas.

O Épico de Gilgamesh, a história de Simbad, o Marujo, em As Mil e Uma Noites, a lenda do Rei Arthur e o conto dos Argonautas… todas essas narrativas, e muitas outras, seguem a estrutura da jornada do herói, assim como as incríveis epopeias de Homero. Praticamente todas as culturas registradas na história têm mitos que se encaixam nessa categoria. Até as andanças épicas de Moisés na Bíblia se enquadram nesse modelo. Parece que, como espécie, nós realmente adoramos contar histórias sobre jornadas heroicas.

Explicações para o Mundo

Os mitos culturais não servem apenas para nos entreter ou registrar eventos históricos; eles também explicam o porquê do mundo ser como é. Essa é a razão de tantas histórias destinadas a dar sentido aos mistérios da existência.

Na Bíblia, por exemplo, temos a história da Torre de Babel, que explica a diversidade das línguas. O discurso de Deus antes de expulsar Adão e Eva do Éden é outro exemplo, pois esclarece tanto o motivo da dor no parto quanto a necessidade do trabalho árduo. Nas lendas da Grécia Antiga, a história de Prometeu ilustra o valor do fogo, enquanto a de Pandora explica a existência de doenças e sofrimento.

Quando você começa a procurar, encontra esses mitos explicativos em praticamente todas as culturas. Há mitos que explicam por que rinocerontes não têm pelos, por que o incesto é tabu e como surgiu a medicina. Em uma era sem ciência, a poesia e o mito eram tudo o que tínhamos para compreender o inexplicável.

O Apocalipse

Tudo o que tem começo tem fim, e nossos ancestrais antigos compreendiam isso tão bem quanto nós. Não é surpresa, então, que a maioria das culturas tenha um mito sobre o Fim dos Tempos para complementar suas histórias de criação – uma espécie de “prêmio de consolação” para aqueles que não viverão para ver o fim (ou seja, todos).

Para os cristãos, esse apocalipse é uma gigantesca epopeia, com desastres, guerras e calamidades que se desenrolam ao longo de muitos anos. Da mesma forma, o Ragnarok nórdico é uma coleção de catástrofes e batalhas que termina com a Terra sendo afogada e recriada. No hinduísmo, é outra batalha épica seguida de um universo renovado, enquanto o budismo descreve o fim do mundo como um espetáculo pirotécnico impressionante, digno de um filme de ação.

Em outras palavras, a maioria dos seres humanos ao longo da história teve uma visão própria sobre o fim de tudo, uma que fazia sentido dentro de suas vidas e culturas. E, no fundo, esses mitos são apenas uma forma de nós, humanos, darmos sentido ao mundo em que vivemos, independentemente de quando ou onde estamos. É um bônus adicional que muitos desses mitos rendam histórias absolutamente incríveis.

Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://listverse.com/2014/01/16/10-universal-myths-of-the-ancient-world/

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