Descubra diversos mitos e contos africanos sobre o reino animal.
Já se perguntou como os animais ganharam suas cores? Ou por que os mosquitos insistem em zumbir em nossos ouvidos? Este artigo explora antigos mitos e contos africanos que respondem a essas perguntas (muitas vezes peculiares).
1. Por que os mosquitos zumbem em nossos ouvidos
Todos já passamos por aquelas noites em claro, incapazes de dormir, porque um mosquito decidiu tocar uma sinfonia bem ao lado do nosso ouvido. Um mito da África Ocidental explica a razão para esse zumbido incessante desses insetos.
A história diz que o Mosquito estava contando mentiras para a Iguana, que se cansou tanto das suas falsidades que colocou gravetos em seus ouvidos. Mais tarde, a Python tentou cumprimentar a Iguana, mas, como ele não ouviu, não respondeu. A Python, desconfiada, achou que a Iguana estava tramando algo e se escondeu na toca do Coelho para espionar. Obviamente, o Coelho entrou em pânico, e sua fuga apressada fez com que o Corvo alarmasse os outros animais sobre o possível perigo. No meio da confusão, o Macaco quebrou um galho de árvore, e um dos filhotes da Coruja-mãe caiu no chão e morreu.
O Rei Leão convocou todos os animais para uma reunião, a fim de descobrir quem era o culpado. O Macaco culpou o Corvo, que culpou o Coelho, que culpou a Python, que culpou a Iguana. Quando a Iguana explicou sua versão, contou a todos por que tinha colocado os gravetos nos ouvidos. Os animais, então, culparam o Mosquito pela morte do filhote de coruja. Desde aquele dia, os mosquitos zumbem em nossos ouvidos para perguntar se ainda estamos com raiva deles.
2. Como o Cão se Tornou Nosso Melhor Amigo
Este mito de Angola trata da domesticação dos cães e de como eles se tornaram nossos companheiros fiéis. Há muito tempo, no interior da selva, o Chacal e o Cão viviam juntos como irmãos. Eles caçavam, brincavam e viajavam lado a lado. Certo dia, ao passarem por uma aldeia movimentada, viram os humanos cozinhando carne com fogo. O Chacal, curioso, queria o segredo do fogo para si, assim ele e o Cão poderiam assar sua carne também.
O Chacal convenceu o Cão a entrar furtivamente na aldeia para roubar o segredo do fogo. No entanto, uma mulher os surpreendeu e deu ao Cão deliciosas sobras de comida. O Cão, então, percebeu que comer restos na aldeia era muito mais fácil do que vagar pela floresta com o Chacal, onde muitas vezes dormiam de estômago vazio. Até hoje, ouvem-se os uivos do Chacal, lamentando o abandono do Cão. Ele nunca descobriu o segredo do fogo e agora tem medo dele.
3. Por que o Sol Nasce e se Põe
Você acreditaria que uma simples mosca é a responsável por termos dia e noite? Neste conto do Congo, um gavião-real recebeu a tarefa de viajar até o céu para encontrar o sol. Uma mosca se ofereceu para ir na frente, caso o grande deus Yemekonji estivesse planejando alguma surpresa, e se infiltrou para ouvir uma reunião divina.
A mosca descobriu que o gavião-real seria apresentado com três pacotes, sendo que um deles continha o sol. Dois dos pacotes seriam coloridos, mas não conteriam nada, enquanto o terceiro, simples, esconderia o sol. Duas delegações anteriores da Terra falharam ao tentar encontrar o sol, pois escolheram pacotes que continham a lua e a estrela da tarde.
A mosca voou rapidamente de volta para avisar o gavião-real. Quando o gavião chegou ao céu, Yemekonji perguntou se ele estava escondendo um espião, e o gavião negou. No entanto, Yemekonji sabia sobre a mosca, mas não ficou zangado e ainda apresentou os três pacotes. O gavião-real escolheu o pacote certo, e Yemekonji o instruiu a erguer o sol bem alto no céu e a contar a todos na Terra que o sol se levantaria e se poria em intervalos de doze horas. E assim, o dia e a noite surgiram.
4. Como o Galinhola Perdeu sua Crista
Na África, essas aves de plumagem salpicada são frequentemente vistas correndo pelas estradas movimentadas, e seus chamados característicos fazem parte do cotidiano. Um mito do Congo explica o motivo pelo qual essas aves não possuem uma crista.
Em uma aldeia de animais, todos se revezavam para ser o chefe. Quando chegou a vez do Lagarto, ele decidiu que seu tempo como líder seria inesquecível. Ele conseguiu um tambor cerimonial, uma roupa luxuosa e muita cerveja para todos os espectadores. No entanto, ainda faltava uma pluma para seu cocar, então ele pediu ao Galinhola que lhe desse uma.
O Galinhola trouxe penas de todos os formatos e tamanhos, mas o Lagarto estava decidido a pegar a crista no topo da cabeça da ave. Relutante, o Galinhola permitiu que sua crista fosse cortada, deixando sua cabeça sem penas até hoje. Contudo, ele não esqueceu a ofensa do Lagarto. Quando chegou sua vez de ser o chefe, exigiu uma pele para fazer um tapete. E não seria qualquer pele, mas sim uma de pele de lagarto. Todos os animais da aldeia concordaram que era um pedido justo, e o Lagarto perdeu sua pele (e sua vida) para que o Galinhola pudesse ter um tapete.
5. Por que o Lêmure ChorA
Em Madagascar, acredita-se que os lêmures são os ancestrais dos humanos. Há muito tempo, dois lêmures viviam juntos na floresta, mas um deles decidiu deixar o lar e começar a cultivar a terra. Foi assim que o primeiro ser humano surgiu. O lêmure que ficou na floresta lamenta a perda de seu irmão que seguiu um caminho diferente; seus chamados penetrantes são um reflexo de sua tristeza.
Diz-se que os gritos dos lêmures são tão perturbadores que, no final dos anos 1500, exploradores portugueses acreditavam estar ouvindo os espíritos dos mortos. Durante a noite, ouviam os gritos vindos da floresta e viam olhos brilhando nas árvores. Pela manhã, descobriram que o motivo do medo era uma família de lêmures.
6. Como as Coisas Ganharam suas Cores
Os San, uma antiga tribo da África do Sul, consideram o louva-a-deus como o criador de todas as coisas. Ele era casado com a procavia (um pequeno mamífero africano), e sua filha, o porco-espinho, se casou com Kwammang-a, o ancestral primordial dos San. Diz-se que o louva-a-deus criou o primeiro elande (um tipo de antílope) a partir de uma sandália descartada por Kwammang-a.
Quando o louva-a-deus visitava o elande à noite, ele esfregava mel escuro de vespas em sua pele, o que deu ao animal sua cor marrom-clara. Da mesma forma, ele deu ao órix (gemsbok) mel claro, o que deu ao animal suas cores branca e marrom-clara. O hartebeest (antílope africano) e o springbok ganharam suas cores vermelhas ao consumir o mel de abelhas jovens. Já o quagga, agora extinto (um parente da zebra), adquiriu sua coloração do mel marrom.
7. Por que o Rinoceronte Joga seu Estrume
Isso mesmo, você leu corretamente. Este é um conto popular da África do Sul que explica por que o rinoceronte espalha seu estrume. Quando o mundo era novo, o Elefante e o Rinoceronte entraram em uma briga, que eventualmente se transformou em uma verdadeira luta. Embora o Rinoceronte tenha conseguido alguns golpes, o Elefante, muito mais sábio, usou suas grandes presas para se defender. O Rinoceronte teve que admitir a derrota e fugiu com enormes ferimentos em seu corpo.
Sem saber como fechar suas feridas, a Senhora Porco-espinho teve pena dele e lhe deu seu espinho mais afiado. Ela o fez prometer que o devolveria, pois era sua única defesa contra os predadores.
Após costurar desajeitadamente suas feridas, o Rinoceronte adormeceu com o espinho ao lado dele. Quando acordou, ele havia esquecido completamente da promessa e só se lembrou dias depois, quando encontrou a Senhora Porco-espinho. Em seu pânico para lembrar onde colocou o espinho, concluiu que o havia engolido acidentalmente. O que entra, deve sair, então ele começou a remexer em seu estrume à procura do espinho. Ele ainda não encontrou e continua procurando até hoje.
Esses mitos africanos sobre animais nos mostram uma visão única da criação e das características dos seres do reino animal. Eles refletem não apenas a imaginação criativa dos povos antigos, mas também seu respeito e admiração pela natureza. Quais desses mitos mais chamaram sua atenção?
Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://www.thecollector.com/african-myths-animals/
André Pimenta é um apaixonado por mitologia, folclore e histórias e estórias fantásticas. Contribuidor dedicado do Portal dos Mitos. Com uma abordagem detalhista, ele explora e compartilha os mistérios das lendas sobre seres e criaturas fantásticas do Brasil e do mundo.