Dos mitos astecas ao Japão, embarque em uma jornada para conhecer alguns dos dragões mais amados e famosos da mitologia e da literatura.
Dragões aparecem em diversas culturas ao redor do mundo, assumindo diferentes formas e estilos. Alguns, como os Lung asiáticos ou os dragões da Europa Oriental, possuem corpos longos e serpenteantes, com ou sem patas. Outros, especialmente aqueles que são reconhecidos na Europa Ocidental, apresentam chifres, asas, pelo menos duas patas e uma boca repleta de dentes afiados, perfeitos para atravessar a armadura de um cavaleiro em missão. Hoje, vamos explorar alguns dos dragões mais amados e famosos, tanto na mitologia quanto na literatura.
Por que amamos tanto os dragões?
Dada a presença constante dos dragões nas lendas ao redor do mundo, não é surpresa que existam diversas teorias para explicar essa fascinação. Entre as principais correntes de pensamento fora do contexto religioso, estão duas ideias: a primeira sugere que os dragões foram inspirados por criaturas reais, e a segunda defende que eles foram criados a partir de fósseis encontrados por civilizações antigas. A verdade, provavelmente, está em uma combinação dessas duas hipóteses.
Os humanos raramente seguem regras rígidas quando se trata de criar histórias, especialmente sobre criaturas fantásticas. Um exemplo disso vem dos monges medievais, que costumavam se basear nos relatos de cavaleiros viajantes sobre terras e animais distantes. Isso muitas vezes resultava em algo parecido com um “telefone sem fio”, onde os detalhes ficavam cada vez mais distorcidos e exagerados.
O Fascínio pelos Dragões: Realidade ou Fóssil?
Um exemplo interessante é o da “Besta Glatisante”, um monstro da lenda arturiana. A criatura tinha a cabeça e o pescoço de uma cobra, o corpo de um leopardo, os quadris de um leão e os pés de um cervo. Isso seria uma criatura mitológica ou simplesmente uma girafa com um toque extra de imaginação?
Sabemos que algumas culturas provavelmente basearam algumas de suas criaturas folclóricas nos fósseis que encontraram. Um excelente exemplo é explorado nos livros First Fossil Hunters e Fossil Legends of the First Americans, da autora Adrianne Mayor. Essas obras trazem uma pesquisa meticulosa sobre como fósseis influenciaram mitos antigos, sendo leituras altamente recomendadas para quem se interessa pelo tema.
Por exemplo:
- O grifo da mitologia cita seria inspirado nos ossos do Protoceratops, encontrados durante as viagens nômades dos citas.
- As lendas do ciclope grego, por outro lado, podem ter sido originadas a partir de encontros com crânios de elefantes anões do Pleistoceno, que habitavam cavernas costeiras nas ilhas do Mar Egeu.
Da mesma forma, a criação dos mitos sobre dragões parece seguir esse padrão misto. Somos contadores de histórias naturais, e o mundo ao nosso redor, com seus mistérios e descobertas, sempre nos inspira a criar narrativas fantásticas.
Dragões Famosos da Mitologia e Literatura
Aqui estão alguns dos dragões mais emblemáticos que surgiram ao longo da história, tanto nos mitos quanto nos livros.
- Dragão Azteca
- Lung Asiático
- Dragões Europeus
- Fafnir da Mitologia Nórdica
- Dragão Smaug de J.R.R. Tolkien
- Drogon de Game of Thrones
- Y Ddraig Goch, o Dragão Vermelho do País de Gales
- Bahamut do RPG Dungeons & Dragons
Essas criaturas provam que, independentemente de onde estejamos neste pequeno ponto azul que chamamos de lar, os dragões continuam a nos cativar.
(Sugestão: Se algum dia você estiver triste, procure uma imagem do “Unicórnio de Guericke“. Garanto que vai te fazer sorrir!)
Os Dragões Mais Famosos da Mitologia e Literatura
1. Fáfnir
Fáfnir é uma figura lendária que aparece nas sagas nórdicas, especificamente na Saga dos Volsungos. Curiosamente, ele nem sempre foi um dragão. Inicialmente, sua forma original nunca foi completamente descrita, mas geralmente se assume que ele era um anão, já que seu irmão Regin era descrito como tal. No entanto, na mitologia nórdica, nem sempre podemos assumir que o irmão de um anão também será um anão. Não é divertido como a mitologia nórdica pode ser imprevisível?
Como dragão, Fáfnir é inicialmente descrito como um wyrm, uma criatura gigante e escamosa, sem braços e pernas. Em versões posteriores da história, sob a influência de tribos germânicas, ele adquire ombros, sugerindo que ele poderia ter pernas também. A história, de forma resumida, conta que o pai de Fáfnir recebeu ouro amaldiçoado dos deuses após eles acidentalmente matarem um dos irmãos de Fáfnir. Quando Fáfnir e seus irmãos sobreviventes pedem ao pai uma parte do ouro, o pai recusa, levando Fáfnir a matá-lo por ganância e fugir com o ouro para o deserto. Com o passar dos anos, sua obsessão pelo ouro o transforma em um dragão. Ele é posteriormente morto por Sigurd, um dos heróis da Saga dos Volsungos, depois que Regin ensina Sigurd como derrotá-lo.
Se você se interessou pela história de Fáfnir, recomendo a leitura da Saga dos Volsungos. Existem várias versões, mas, pessoalmente, acredito que a Edda Poética é uma das melhores. Embora a Edda em Prosa seja outra opção, Snorri Sturrlson adicionou elementos do cristianismo que não estavam na versão original, e a mudança de forma poética para prosa faz com que parte da essência da história se perca. Como um bônus adicional, a Edda Poética serviu de inspiração para J.R.R. Tolkien em O Hobbit, incluindo os nomes dos anões.
2. Hidra
A Hidra é uma figura que vem da mitologia grega e é retratada como um dragão imortal de várias cabeças, geralmente nove, embora esse número varie conforme a versão da história. Segundo a Teogonia de Hesíodo, o primeiro relato escrito da Hidra, ela era filha de Equidna e Tifão, dois dos monstros mais temidos da mitologia grega. A criatura vivia no Lago Lerna, atacando as vilas da região após ser ensinada pela deusa Hera a destruir tudo o que visse pela frente. Esse cenário fez dela o monstro perfeito para Héracles (ou Hércules, em latim) enfrentar em sua segunda tarefa das doze que ele deveria cumprir.
Só para relembrar, Héracles era filho de Zeus, fruto de uma de suas muitas aventuras extraconjugais. Com razão, Hera ficou furiosa e convenceu Zeus a banir seu filho do Monte Olimpo. Mesmo assim, Héracles cresceu e se tornou um grande herói grego, até que um dia procurou um oráculo, que lhe disse que a única maneira de alcançar a imortalidade era completar 12 tarefas impossíveis. Hera viu nisso uma oportunidade de finalmente se livrar de Héracles. Derrotar a imortal Hidra foi a segunda dessas tarefas, e uma das mais difíceis, já que, cada vez que Héracles cortava uma de suas cabeças, duas outras cresciam no lugar.
Percebendo a inutilidade de continuar lutando dessa maneira, Héracles chamou seu sobrinho, que começou a queimar os tocos das cabeças cortadas com fogo, impedindo que outras surgissem. Por fim, Héracles chegou à cabeça imortal da Hidra e a cortou com a espada dourada que Atena lhe deu, enterrando-a sob uma rocha para evitar que se reconstituísse. A Hidra, no entanto, continua a existir nas estrelas como uma constelação. Ela também conseguiu sua vingança: seu sangue altamente venenoso foi utilizado para provocar a queda de Héracles.
3. Apep
Apep, também conhecido como Apófis na mitologia grega, era uma divindade serpentina do Egito Antigo, representando o verdadeiro caos. Ele era o grande vilão egípcio, a antítese de Ma’at, o conceito de ordem e harmonia, que era central na cultura egípcia. Apep encarnava a luta eterna entre a ordem e o caos, um tema recorrente na literatura egípcia.
Não há uma história de origem clara sobre Apep, mas alguns textos sugerem que ele teria surgido do cordão umbilical de Rá. A relação entre Rá e Apep era de inimizade total, com os dois enfrentando-se todas as noites. Na crença egípcia, o Sol era o barco de Rá, que navegava pelo céu durante o dia. Ao anoitecer, esse barco descia para o submundo, e era nesse momento que Apep atacava, tentando destruir Rá e impedir o nascer do sol no dia seguinte.
Durante essas batalhas noturnas, outros deuses que estavam no barco ajudavam Rá, assim como os sacerdotes egípcios, que realizavam rituais e orações para garantir a vitória do deus solar. No fim, Rá sempre vencia, fazendo com que o Sol nascesse novamente, enquanto Apep recuava para o submundo, aguardando a próxima noite. As primeiras menções a Apep surgem durante o período do Império Médio, mas a maior parte do que se sabe sobre ele vem dos textos do Novo Reino. Sua representação mais conhecida, vinda do Livro dos Mortos, o mostra como uma serpente enroscada, geralmente sendo atacada ou desmembrada.
4. Yamata no Orochi
Yamata no Orochi, ou simplesmente Orochi, é um dragão da mitologia japonesa, mencionado principalmente em dois textos antigos: o Kojiki e o Nihon Shoki. Em ambas as obras, Orochi é descrito como um dragão de oito cabeças e oito caudas, com um corpo tão longo que cobria oito vales e oito colinas (o número oito é significativo no xintoísmo, geralmente associado à sorte ou prosperidade).
Na história principal, após ser expulso dos Céus, o deus Susanoo encontra divindades terrenas que viviam aterrorizadas pelo temível dragão Orochi há anos. Essas divindades tinham que sacrificar uma de suas filhas a cada ano para a criatura, e estavam prestes a entregar sua última filha. Para ajudar, Susanoo transforma a jovem em um pente para mantê-la a salvo, e orienta as divindades a preparar oito tonéis de saquê refinado e colocá-los em plataformas.
Quando Orochi chega para pegar a última filha, ele mergulha suas oito cabeças nos tonéis e bebe até ficar completamente embriagado. Ao cair no sono, Susanoo aproveita a oportunidade e corta o dragão em pedaços, fazendo tanto sangue fluir que o rio Hii mudou seu curso. Após a batalha, Susanoo encontra uma espada na cauda de Orochi, a Kusanagi-no-Tsurugi, que ele posteriormente oferece como presente à deusa Amaterasu como um pedido de desculpas. Essa espada se torna um dos três tesouros sagrados do Japão, compondo as insígnias da Casa Imperial.
5. Wyvern
O wyvern não é exatamente um dragão específico, mas sim uma espécie de dragão. Geralmente, ele aparece em representações de dragões europeus que, à primeira vista, parecem com o estereótipo clássico de dragão, exceto pelo fato de possuírem apenas duas pernas e um par de asas. Ao contrário de outros dragões do folclore, o wyvern não costuma soltar fogo, mas é conhecido por ter uma cauda venenosa, pontiaguda e com farpas.
Embora o wyvern não esteja diretamente associado a histórias famosas, ele aparece com frequência em brasões e heráldicas, especialmente na Inglaterra, Escócia e Irlanda. Nesses contextos, ele simboliza força, proteção e resistência, apesar de ser descrito como uma criatura agressiva, capaz de espalhar pestes. Assim como os dragões europeus tradicionais, wyverns também são conhecidos por sua cobiça por ouro. Mesmo sem um conto específico para chamar de seu, eles costumam surgir em histórias regionais, onde cavaleiros enfrentam dragões, ou são desenhados nas margens de manuscritos.
6. Tiamat
Tiamat, uma figura proeminente da mitologia mesopotâmica, é conhecida como a deusa primordial do mar e a personificação do caos. Ela desempenha um papel crucial no mito da criação mesopotâmica. Junto com Apsu, o deus primordial das águas subterrâneas, Tiamat gerou os primeiros deuses, como Lahmu e Lahamu, que deram origem a outros deuses. A história de Tiamat é complexa, cheia de batalhas e disputas, como é comum nas mitologias antigas, onde as divindades raramente são benevolentes ou perdoadoras.
Após uma série de conflitos, Tiamat é derrotada por Anu, que mais tarde se tornaria o rei dos deuses. Anu corta Tiamat ao meio, utilizando sua caixa torácica para formar os céus e a terra. Seus olhos chorosos se transformam nos rios Tigre e Eufrates, e sua cauda dá origem à Via Láctea. A queda de Tiamat também marca a ascensão de Marduk, que se tornaria o deus patrono da Babilônia e o principal do panteão babilônico.
Se você se interessa por mitologia mesopotâmica, recomendo a leitura de Mitos da Mesopotâmia: Criação, Dilúvio, Gilgamesh e Outros, uma excelente coleção de histórias que inclui a famosa Epopeia de Gilgamesh.
7. Y Ddraig Goch
Y Ddraig Goch, que literalmente significa “dragão vermelho” em galês, é o dragão que aparece na bandeira do País de Gales. Sua história começa no Mabinogion, onde ele aparece preso em uma batalha com um dragão branco. Ele também aparece na Historia Brittonum, durante o conflito entre os britânicos celtas e os invasores saxões.
O líder britânico Vortigern, após uma série de derrotas, tenta construir uma cidadela, mas a estrutura continua desmoronando. Seus conselheiros o informam que o problema só será resolvido se ele matar um garoto nascido sem pai. No entanto, quando o menino é trazido à sua presença, ele revela que o verdadeiro motivo do colapso é a batalha entre dois dragões debaixo da colina. O dragão branco representa os saxões, e o dragão vermelho, os britânicos. Embora o dragão branco vença algumas batalhas, o dragão vermelho eventualmente prevalecerá, simbolizando a vitória final dos britânicos.
Essa história foi posteriormente repetida por Geoffrey de Monmouth em A História dos Reis da Grã-Bretanha, sendo associada à lenda do Rei Arthur, com o dragão vermelho simbolizando a sua vinda. Desde então, Y Ddraig Goch se tornou um símbolo dos galeses e dos britânicos celtas, aparecendo em estandartes de vários monarcas da dinastia Tudor.
8. Quetzalcóatl
Quetzalcóatl é uma das principais divindades da mitologia asteca, sendo o deus patrono de várias áreas, mas, principalmente, o criador da humanidade. Junto com seus irmãos Tlaloc, Tezcatlipoca e Huitzilopochtli, ele forma o núcleo do panteão asteca. Quetzalcóatl é frequentemente representado como uma serpente emplumada, e seu nome literalmente significa “serpente emplumada”. Às vezes, ele também é retratado como um homem usando um cocar de serpente emplumada.
Curiosamente, se você gosta de chocolate quente, tem a Quetzalcóatl para agradecer! Ele foi o responsável por trazer o cacaueiro da montanha sagrada e ensinar as mulheres toltecas a preparar o chocolate bebível. Para quem se interessa pelas histórias de Quetzalcóatl, uma leitura recomendada é Mitologia Mesoamericana: Mitos e Lendas Fascinantes dos Maias, Incas e Astecas, de Simon Lopez, uma obra que explora várias lendas dessa rica mitologia.
E, só para esclarecer, o mito de que Montezuma II acreditava que Hernán Cortés era Quetzalcóatl reencarnado não tem base histórica. Esse boato só entrou no registro histórico cerca de 50 anos após a conquista espanhola e o início da colonização do Império Asteca.
Conclusão
Os dragões, com suas diferentes formas e significados, continuam a povoar o imaginário de várias culturas ao redor do mundo. Desde o caos primordial representado por Tiamat até o poderoso Quetzalcóatl, essas criaturas mitológicas desempenham papéis que vão além do simples medo ou fascínio: elas simbolizam forças maiores, como a luta entre a ordem e o caos, a busca por poder e o desejo de imortalidade. Em livros, filmes e lendas, os dragões refletem aspectos da condição humana e a nossa incessante necessidade de contar histórias que explicam o mundo ao nosso redor. Ao explorarmos esses seres fantásticos, também exploramos um pouco de nós mesmos.
Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://bookriot.com/famous-dragons-in-mythology/
FAQ
- O que é um wyvern? Um wyvern é um tipo de dragão europeu com apenas duas pernas e um par de asas, muitas vezes representado em heráldicas, especialmente no Reino Unido.
- Quem é Fáfnir na mitologia nórdica? Fáfnir era originalmente um anão que foi transformado em dragão devido à sua ganância por ouro, sendo morto pelo herói Sigurd.
- O que simboliza Y Ddraig Goch, o dragão vermelho do País de Gales? O dragão vermelho representa a vitória dos britânicos celtas sobre os saxões invasores e é um importante símbolo da identidade galesa.
- Quetzalcóatl é um dragão? Quetzalcóatl é uma divindade asteca retratada como uma serpente emplumada, simbolizando a criação da humanidade e o conhecimento.
- A Hidra grega realmente tinha cabeças imortais? Sim, na mitologia grega, a Hidra era um dragão com várias cabeças, e quando uma delas era cortada, duas novas cresciam em seu lugar, tornando-a quase imortal.
André Pimenta é um apaixonado por mitologia, folclore e histórias e estórias fantásticas. Contribuidor dedicado do Portal dos Mitos. Com uma abordagem detalhista, ele explora e compartilha os mistérios das lendas sobre seres e criaturas fantásticas do Brasil e do mundo.