Garotas raivosas, girafas, rinocerontes e homens com axilas brilhantes: assim as estrelas eram vistas pelas sociedades tradicionais da África do Sul.
Cada cultura na Terra olhou para as estrelas em busca de informações práticas e respostas para grandes questões da vida. Muitas vezes, essas descobertas vêm envoltas em histórias que são passadas de geração em geração.
Orion e as Plêiades
Na África do Sul, as Plêiades eram conhecidas como IsiLimela, ou “as estrelas da colheita”. Seu surgimento no céu marcava o início do tempo de preparar a terra para o plantio. Em várias partes da África, essas estrelas eram um indicativo do início da temporada de cultivo. Como diz um antigo ditado: “Quando IsiLimela é renovado, o ano é renovado, e então começamos a cavar” (Callaway, 1970). Entre os homens Xhosa, os anos de maturidade eram contados a partir do momento em que IsiLimela se tornava visível em junho.
Segundo os Namaquas, as Plêiades eram as filhas do deus do céu. Quando seu marido, representado pela estrela Aldebaran, atirou sua flecha (a espada de Órion) contra três zebras (as estrelas do cinturão de Órion), a flecha caiu antes de alcançar o alvo. Ele não ousou voltar para casa de mãos vazias e não foi buscar sua flecha por medo do leão feroz (Betelgeuse) que observava as zebras.
As Histórias de Órion
Para os Tswana, as estrelas da espada de Órion eram conhecidas como Dintsa le Dikolobe, três cães perseguindo os três porcos do cinturão de Órion. Esses porcos, na realidade, são javalis, que costumam ter suas crias enquanto Órion está proeminente no céu, frequentemente com três filhotes por ninhada.
A Via Láctea
Uma história dos Bushmen narra que uma garota, furiosa por sua mãe não lhe oferecer um pedaço de raiz assada, jogou as brasas do fogo no céu. Assim, as raízes e cinzas criaram a Via Láctea, com suas estrelas vermelhas e brancas representando as brasas que ela jogou para cima. Segundo o conto: “Alguns a chamam de Via Láctea, outros de Estrada das Estrelas, mas não importa o nome, foi o caminho criado por uma jovem há muitos anos.”
Os Xhosas viam a Via Láctea como os pelos eriçados nas costas de um cachorro zangado. Já para os Sotho e Tswana, ela era conhecida como Molalatladi, o lugar onde o raio descansa, que impede o céu de desabar e marca a passagem do tempo.
As Estrelas
As estrelas carregam vários significados nas culturas da África do Sul. Para o povo Karanga, elas eram vistas como os olhos dos mortos. Para os Tswana, as estrelas podiam ser os espíritos de almas que se recusavam a nascer, ou de pessoas que já estavam mortas há tanto tempo que não eram mais consideradas ancestrais. Entre os Venda, acreditava-se que as estrelas estavam penduradas por cordas no domo sólido do céu.
A Lua
Muitas culturas africanas viam as marcas na Lua como um homem ou uma mulher carregando um feixe de lenha. Entre os Tswana, acreditava-se que as marcas da Lua representavam uma mulher com uma criança, que foi flagrada colhendo lenha em vez de participar de um festival sagrado.
Na lenda dos Sotho, Tswana e Venda, a fase crescente da Lua, chamada Nwedzana, tinha um significado especial. Se as pontas da lua nova estavam voltadas para cima, acreditava-se que ela estava “segurando” doenças. Já quando estavam para baixo, era como se estivesse derramando enfermidades sobre o mundo.
O Sol
O Sol, segundo uma lenda dos Khoikhoi e San, era originalmente um homem que fazia o dia aparecer ao levantar os braços, de onde saía uma poderosa luz. Com o tempo, ao envelhecer, ele dormia mais e fazia com que o mundo ficasse frio. Foi então que as crianças o jogaram no céu, onde ele permaneceu, quente e brilhante.
Algumas tradições acreditavam que, após o pôr do sol, ele viajava de volta ao leste através do céu, com as estrelas sendo pequenos buracos que permitiam a passagem de sua luz. Outras culturas diziam que o Sol era devorado por um crocodilo ao anoitecer e que renascia ao amanhecer.
Canopus e o Cruzeiro do Sul
Canopus, uma estrela brilhante no céu do hemisfério sul, era conhecida por algumas tribos como a “estrela dos ovos de formiga”, devido à sua presença durante a época em que esses ovos eram abundantes. As estrelas do Cruzeiro do Sul e suas proximidades eram frequentemente associadas a girafas. Entre os Venda, essas estrelas eram chamadas de Thutlwa, “as que se elevam acima das árvores”, já que as girafas aparecem no horizonte ao entardecer durante o mês de outubro, lembrando as pessoas de que era hora de finalizar o plantio.
Segundo Credo Mutwa, o Cruzeiro do Sul era visto como a Árvore da Vida, uma constelação sagrada entre os povos da região.
Conclusão
As tradições e mitos das estrelas na África do Sul revelam como o céu noturno é profundamente entrelaçado com as crenças e o cotidiano das comunidades tradicionais. Essas histórias não só trazem explicações para fenômenos celestes, mas também refletem os valores e a relação dessas culturas com a natureza e o cosmos.
FAQ
- O que são as Plêiades para as culturas africanas? As Plêiades são conhecidas como IsiLimela, “as estrelas da colheita”, que marcam o início da temporada de plantio.
- Como a Via Láctea é vista pelas sociedades tradicionais sul-africanas? A Via Láctea é vista de várias formas, como o caminho das estrelas ou o lugar onde o raio descansa.
- Qual é a relação das marcas da Lua com mitos africanos? Muitos mitos africanos veem as marcas da Lua como representações de uma pessoa carregando lenha.
- Como o Sol era explicado pelas tradições sul-africanas? O Sol era visto como um homem que fazia o dia aparecer ao levantar os braços, mas foi jogado no céu para sempre pelas crianças.
- O que o Cruzeiro do Sul representa para as tribos africanas? O Cruzeiro do Sul é frequentemente associado a girafas e, segundo Credo Mutwa, à Árvore da Vida.
Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://www.rmg.co.uk/stories/topics/south-african-star-myths
André Pimenta é um apaixonado por mitologia, folclore e histórias e estórias fantásticas. Contribuidor dedicado do Portal dos Mitos. Com uma abordagem detalhista, ele explora e compartilha os mistérios das lendas sobre seres e criaturas fantásticas do Brasil e do mundo.