Cães: Os Não-Tão-Bons Garotos da Mitologia Japonesa

Em 24 de maio de 2024, o Shiba Inu famoso pelo meme “doge” faleceu. Seu nome verdadeiro era Kabosu, inspirado na fruta cítrica japonesa. A internet a conhecia por seu sorriso encantador e seu jeito engraçado, semelhante a um personagem de desenho animado. O fato de sua imagem ter sido usada mais tarde para promover criptomoedas não foi culpa dela. Kabosu foi uma boa cachorrinha.

Assim como Hachiko, o icônico Akita que continuou indo até a estação de Shibuya todos os dias, esperando fielmente por seu dono, mesmo após a morte dele. A história japonesa está repleta de cães leais e admirados. Contudo, quando se trata da mitologia japonesa, as histórias envolvendo cães nem sempre são tão amigáveis.

Hainu: O Cão Alado Que Aterrorizou Toyotomi Hideyoshi

Em Chikugo, Fukuoka, existe uma antiga lenda sobre o hainu, um cão com asas. Não se preocupe, essa história não é sobre outro cachorro que partiu. Esse, na verdade, tinha asas reais e as usava para voar pelos céus, causando problemas para um dos mais poderosos senhores de guerra da história japonesa. Reza a lenda que, em 1587, durante a invasão de Kyushu, Toyotomi Hideyoshi — o segundo grande unificador do Japão — teve seu caminho interrompido por essa criatura mítica.

O hainu se parecia com um cão, mas tinha um corpo mais longo e asas de pássaro. Ele rosnava e atacava todos que se aproximavam e era temido pelos moradores locais por atacar o gado. Após um longo esforço, finalmente conseguiram dominar a criatura.

Hideyoshi, apesar de irritado com o contratempo, ficou impressionado com a determinação do hainu e ordenou que ele fosse enterrado com honra no templo Sogakuji, onde até hoje se encontra o monte Hainuzuka. Séculos depois, o hainu foi escolhido como mascote de Chikugo. Talvez o ensinamento aqui seja que não importa se você é bom ou mau; o que importa é ser muito bom no que faz.

Okuri-Inu: Os Pacientes Devoradores de Humanos

Viajar pelo Japão feudal já era difícil nas melhores circunstâncias. Mas, para aqueles que se aventuravam por estradas desertas, nas altas montanhas ou nas profundezas de florestas densas, havia algo ainda mais temido que bandidos ou sequestradores: o assustador okuri-inu.

O nome okuri-inu, que significa literalmente “cão que acompanha”, é um dos maiores exemplos de propaganda enganosa da história. De fato, essas criaturas mitológicas, que supostamente pareciam grandes cães, seguiam pacientemente os viajantes solitários, como se estivessem apenas “acompanhando” a jornada. No entanto, isso era só uma parte da história. A outra parte pode ser resumida assim: se você tropeçasse e caísse, o okuri-inu aproveitava a oportunidade para atacá-lo e devorá-lo. Fim da história.

Havia, porém, uma maneira de se proteger dessas criaturas, além de aprender a se levantar rapidamente. O truque estava em fazê-las acreditar que você não havia caído de verdade, mas apenas se deitado para descansar. E, ao chegar ao fim da jornada, para garantir que os cães demoníacos não seguissem você até sua casa, era necessário virar-se, fazer uma reverência e agradecer aos monstros por “acompanhar” sua viagem em segurança, embora o medo provavelmente estivesse estampado no rosto.

Inugami: A Razão pela Qual Todos os Cães Merecem o Céu

Na antiga prática japonesa de onmyodo, um tipo de feitiçaria esotérica, havia quem se aventurasse a criar demônios em vez de exorcizá-los. E, entre esses demônios, estava o inugami, uma entidade canina criada para ajudar em vinganças, especialmente eliminando inimigos. O processo para criar um inugami era brutal, parecendo mais uma cena de filme de terror.

Uma das formas populares de criar um inugami envolvia enterrar um cão até o pescoço e deixá-lo sem comida por alguns dias, com comida colocada ao seu alcance, mas fora de seu alcance. No momento em que o animal estivesse prestes a morrer de fome, sua cabeça era cortada, enquanto feitiços eram entoados, para que o espírito vingativo do animal permanecesse no mundo físico.

Se tudo corresse “bem”, o inugami obedeceria às ordens de seu criador, que geralmente incluíam destruir inimigos. A boa notícia é que muitos registros indicam que o inugami frequentemente escapava do controle, matava seu criador e, espera-se, finalmente seguia em paz para o céu dos cães, onde um belo bife o aguardava.

Sunekosuri: Um Alívio Cômico Muito Necessário Após a História do Inugami

Nem todos os cães sobrenaturais do Japão são malignos. Alguns são apenas brincalhões e travessos. Você já percebeu como alguns cães adoram se divertir correndo entre suas pernas enquanto você anda, como se estivessem treinando para o slalom gigante, até você inevitavelmente tropeçar? Bem, existe uma criatura na mitologia japonesa cuja função é exatamente essa: fazer você tropeçar de brincadeira. Esses espíritos travessos são conhecidos como sunekosuri (algo como “esfregadores de canelas”), e geralmente assumem a forma de cães pequenos.

Algumas versões da lenda dizem que esses poltergeists brincalhões apenas gostam de se esfregar nas pernas das pessoas e que os tropeços são puro acaso. Mas há uma peculiaridade: eles parecem gostar de aparecer em noites chuvosas, quando uma queda seria especialmente irritante, mas sem causar ferimentos graves. Parece algo bem calculado por uma entidade travessa, não acha? Por outro lado, eles talvez só queiram um pouco de carinho, então não se pode ficar bravo com eles — especialmente depois de tudo que a humanidade fez ao criar seres como o inugami.

Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://www.tokyoweekender.com/art_and_culture/japanese-culture/4-supernatural-dogs-from-japanese-mythology/

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