Fósseis de Mamutes com “Olho Único” Podem Ter Inspirado a Origem dos Ciclopes

A ligação é difícil de comprovar, mas fósseis de mamutes, mastodontes e outros elefantes extintos podem ter influenciado as antigas histórias gregas sobre os ciclopes, criaturas gigantescas de um olho só.

O Ciclope na Mitologia Grega e Seus Possíveis Antecedentes Fósseis

Os fósseis de elefantes pré-históricos podem estar por trás do mito grego que descreve os ciclopes como criaturas enormes, de um olho só, conhecidas por seu apetite voraz por carne humana. Na obra Odisseia, o poeta grego Homero narra o encontro quase fatal do herói Odisseu com o ciclope Polifemo. Quando o herói e sua tripulação ficam presos na ilha da Sicília, Odisseu usa sua astúcia para cegar o gigante e escapar junto com os poucos sobreviventes — já que muitos dos seus homens haviam sido devorados — escondendo-se sob um rebanho de ovelhas.

A Descoberta de Fósseis e a Origem de Mitos

É possível que exploradores das ilhas do Mediterrâneo tenham encontrado cavernas repletas de crânios de elefantes antigos, com ossos espalhados pelo chão, e que essas descobertas tenham levado ao surgimento de histórias sobre gigantes de um olho só que devoravam humanos.

Adrienne Mayor, pesquisadora do Departamento de Estudos Clássicos da Universidade de Stanford e especialista em fósseis e mitos antigos, explica: “Quem visita um museu de história natural e observa o crânio de um elefante vê que as cavidades oculares são pequenas e passam despercebidas. O que chama a atenção é o enorme buraco no meio do crânio, que se assemelha a um único olho.”

Os Crânios de Mamutes Teriam Inspirado o Mito do Ciclope?

Aquele grande buraco no crânio dos elefantes pré-históricos, na verdade, é uma cavidade nasal. Contudo, antes da época de Alexandre, o Grande, no século IV a.C., os gregos antigos nunca tinham visto um elefante vivo, o que poderia facilmente levar à confusão: esse espaço poderia ser interpretado como a órbita de um grande olho único.

Fósseis de diversas criaturas pré-históricas são conhecidos em ilhas mediterrâneas, como Creta, Malta e Chipre, incluindo espécies de elefantes anões na Sicília, justamente a terra de Polifemo. Ossos de mamutes, mastodontes e outros elefantes extintos, encontrados nestas regiões, podem ter contribuído para o surgimento da lenda dos ciclopes. Na ilha de Samos, por exemplo, fósseis de grandes animais podem estar ligados à lenda das Neades, criaturas gigantescas cujos gritos causavam terremotos.

Embora seja provável que esses fósseis tenham influenciado a criação de mitos antigos, não há evidências definitivas que comprovem que esses achados antecederam as histórias. Pode ser, inclusive, que essas narrativas já existissem e as descobertas fósseis apenas as reforçassem, como explica Adrienne Mayor. “Não sabemos o que veio primeiro”, afirma ela. “Eu evito dizer que os fósseis inspiraram ou foram a fonte da história, pois não temos como provar isso.”

Fósseis e a Cultura Grega e Romana Antiga

Na antiguidade, a descoberta de fósseis de criaturas extintas pode ter servido como uma confirmação para antigas crenças sobre gigantes e outros seres míticos, como o grifo. Essa criatura composta — parte ave, parte leão ou águia — teria guardado ferozmente seus ninhos e atacado aqueles que buscavam ouro nos desertos da Ásia Central.

De acordo com a pesquisa de Mayor, fósseis bem preservados do dinossauro protoceratops, com bico semelhante ao de uma ave, podem ter influenciado as representações do grifo, que mais tarde apareceriam na mitologia grega.

Para os antigos gregos, heróis míticos como Aquiles, Ajax e Odisseu eram considerados cerca de três vezes maiores que os homens e mulheres comuns da época. Quando encontravam um grande fêmur ou osso da coxa, que na verdade pertencia a um elefante pré-histórico, parecia um osso humano em formato, mas em tamanho descomunal.

Em sua pesquisa para o livro First Fossil Hunters: Dinosaurs, Mammoths, and Myths in Ancient Greek and Roman Times, Mayor encontrou uma forte correlação entre evidências literárias de achados fósseis e sítios paleontológicos reais. Ela observou que ossos fósseis gigantes encontrados em sítios arqueológicos, como templos, mostravam que povos antigos “prestavam atenção, tentavam explicar e até colecionavam, mediam e exibiam esses fósseis gigantescos” em suas comunidades.

Fósseis Influenciaram os Mitos da Grécia e Roma Antiga?

Para Adrienne Mayor, “não há dúvidas de que os fósseis influenciaram a forma como os antigos gregos e romanos imaginaram suas histórias mitológicas sobre gigantes, monstros e criaturas fabulosas”. Esse processo de interação com fósseis e a criação de narrativas a partir deles — como o encontro fatídico entre o ciclope Polifemo e Odisseu — atravessa a história, aparecendo também em outras culturas e entre povos indígenas.

Uma Combinação de Racionalidade e Imaginação

Mayor destaca que, tanto na antiguidade quanto em culturas pré-científicas, as pessoas se esforçaram para entender e explicar esses restos enigmáticos encontrados em suas terras. Segundo ela, “usavam uma mistura de racionalidade e imaginação — da mesma forma que os paleontólogos de hoje fazem ao tentar dar vida aos restos de criaturas desconhecidas que nunca verão vivas. Eles tentavam imaginar sua aparência, comportamento e habitat”.

Esse esforço de reimaginação permitiu que esses povos projetassem histórias ricas e imaginativas, integrando os fósseis em suas crenças e mitos sobre o mundo e seus mistérios. Assim, as evidências de criaturas de eras passadas se tornaram parte da mitologia, deixando um legado duradouro na forma como compreendemos o mundo natural e a história que ele revela.

Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://www.discovermagazine.com/the-sciences/one-eyed-looking-mammoth-fossils-may-have-inspired-origins-of-the-cyclops

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