As histórias sobre criaturas sobrenaturais que percorrem a Terra têm fascinado a imaginação humana ao longo dos séculos. Neste artigo, exploraremos algumas das mais famosas figuras lendárias do Oriente Médio e suas intrigantes origens.
Criaturas Fantásticas e Lendas Ancestrais
De acordo com antigas lendas do Oriente Médio, criaturas extraordinárias habitavam um mundo repleto de mistérios. Diz-se que coelhos gigantes com chifres já saltitavam pela Terra, que, por sua vez, era sustentada nas costas de uma enorme baleia. Enquanto isso, uma serpente colossal descansava no núcleo da Terra, aguardando pacientemente o apocalipse para engolir o mundo por completo.
A origem dessas descrições vívidas e imaginativas é um tema de debate entre os estudiosos. Alguns sugerem que essas histórias podem ter sido a forma encontrada por nossos antepassados para explicar a descoberta de fósseis de dinossauros ou outros animais pré-históricos.
Afinal, a realidade oferece sua própria coleção de criaturas de aparência peculiar, como o dugongo, um animal que parece uma mistura entre golfinho e foca, encontrado nas águas do Mar Vermelho e do Mar Arábico.
Criaturas Simbólicas ou Representações Alegóricas?
Outros estudiosos acreditam que essas criaturas sejam criações simbólicas, usadas para representar qualidades humanas em forma animal. Elas podem ter servido como metáforas ou ensinamentos morais, ganhando destaque em narrativas mágicas e religiosas ao longo do tempo.
Independentemente da origem, as descrições dessas criaturas são abundantes e fascinantes. O historiador grego Heródoto, no século V a.C., afirmou ter visitado um local próximo a Alexandria, no Egito, onde encontrou restos de serpentes aladas gigantescas “em quantidades tão grandes que seria impossível descrevê-las”.
Da Mitologia às Tradições Religiosas
Essas descobertas e histórias inspiraram mitos que permanecem vivos até os dias de hoje. Muitas dessas narrativas foram enriquecidas com parábolas religiosas e elementos mágicos.
Embora as três religiões abraâmicas geralmente desencorajem a crença na existência dessas criaturas, suas tradições incluem descrições de animais lendários que desempenham papéis cruciais em narrativas bíblicas e corânicas.
No artigo a seguir, exploraremos algumas dessas criaturas que aparecem nas lendas, textos religiosos e histórias do Oriente Médio, revelando como elas continuam a cativar nossa imaginação.
Criaturas Fascinantes
Falak: A Serpente do Fim dos Tempos
Falak é uma serpente ardente que descansa nas profundezas do inferno, aguardando o momento de engolir os céus, a Terra e o próprio inferno. No entanto, ela adia sua missão por temor a Deus. O nome “Falak”, que significa “amanhecer” em árabe, é associado a uma criatura ainda mais imponente e aterrorizante do que o Basilisco das lendas medievais europeias.
De acordo com os mitos, Falak foi criada no início dos tempos e só se revelará no final do mundo, quando devorará os pecadores. Alguns sugerem que sua inspiração pode vir da real e fascinante “python de magma”, uma serpente africana conhecida por sua pele que brilha como brasas e por seu hábito de enterrar-se no solo, aguardando para capturar e sufocar suas presas.
Serpentes são símbolos universais em diversas culturas. Na Bíblia, por exemplo, a serpente é o tentador de Adão e Eva. Em mitologias como a egípcia, encontramos Apep, uma grande serpente que tenta matar o deus sol Rá e, ao falhar, provoca terremotos. Já na mitologia nórdica, Jormungand, filho de Loki, envolve o mundo com seu corpo escamoso, segurando a própria cauda em uma imagem semelhante ao ouroboros. Assim como Falak, Jormungand também aguarda o fim do mundo, conhecido como Ragnarok.
Bahamut: O Suporte do Mundo
Bahamut é uma criatura gigantesca da mitologia pré-islâmica, descrita como um enorme peixe ou baleia que sustenta a estrutura do universo. Segundo a lenda, um touro chamado Kuyta carrega uma pedra preciosa em suas costas, sobre a qual repousa um anjo. Este anjo equilibra os seis infernos, a Terra e os sete céus. Logo abaixo de tudo isso está Falak, a serpente mencionada anteriormente.
Relatos medievais descrevem Bahamut de diferentes formas. Algumas versões afirmam que sua cabeça se assemelha à de um hipopótamo ou elefante, enquanto outras sugerem que ele é uma serpente marinha alada com presas afiadas. O geógrafo árabe do século XII, Ibn al-Wardi, detalha essa estrutura cósmica em sua obra Kharidat al-Ajaib wa Faridat al-Gharaib (A Pérola das Maravilhas e a Singularidade das Coisas Estranhas).
Alguns estudiosos acreditam que Bahamut combina influências do Behemoth e do Leviatã, monstros terrestres e aquáticos mencionados na Bíblia, ou mesmo de mitos mesopotâmicos que chegaram à Península Arábica. Jorge Luis Borges, escritor argentino do século XX, descreveu Bahamut em seu Livro dos Seres Imaginários como tão vasto que sua visão seria insuportável para os humanos. Ele escreveu: “Todos os mares do mundo, colocados em uma das narinas do peixe, seriam como uma semente de mostarda no deserto.”
Embora o Alcorão não mencione Bahamut, a figura foi amplamente popularizada por escritores medievais e, mais recentemente, reinterpretada em obras de fantasia, como a série Dungeons & Dragons, onde Bahamut aparece como uma criatura semelhante a um dragão.
Rukh: A Ave Colossal
O Rukh, ou Roc, é descrito como um pássaro gigantesco, capaz de carregar um elefante em suas garras. Marco Polo, o explorador veneziano do século XIII, relatou que essa impressionante ave vivia em Madagascar, que na época abrigava a hoje extinta ave-elefante, um pássaro de nove pés de altura.
Outro famoso explorador, o marroquino Ibn Battuta, também mencionou o Rukh no século XIV. Ele descreveu a criatura como sendo branca, com uma envergadura de 48 pés, chamando-a de “montanha voadora” que sobrevoava os mares da China.
O Livro das Mil e Uma Noites também faz referência ao Rukh em várias histórias, incluindo as aventuras de Simbad, o Marujo. Em uma dessas narrativas, Simbad é salvo por um Rukh após um naufrágio e levado até o ninho da ave em uma montanha. Lá, ele observa ovos de Rukh que são “148 vezes maiores” que ovos de galinha. Em uma tentativa de escapar, Simbad amarra seu turbante à perna da ave, sendo levado tão alto que perde a visão da Terra.
Criaturas similares ao Rukh podem ser encontradas em outras mitologias, como a Fênix egípcia. É possível que o Rukh seja uma variante árabe dessa figura mítica. Outra ave lendária mencionada em escritos de Al-Qazwini é a Anqa, cujo nome significa “aquela com o pescoço longo”. Descrita como uma águia gigante, acredita-se que vivia nas Montanhas de Qaf, uma cadeia mística que conecta a Terra ao cosmos.
Dandan: O Gigante dos Mares
O Dandan, talvez uma variação do Bahamut, é um monstro marinho colossal que aparece nas histórias das Mil e Uma Noites, especificamente nos contos de Abdullah, o Pescador, e Abdullah, o Tritão. Esse peixe gigante é capaz de engolir um navio inteiro de uma só vez, sendo frequentemente comparado ao megalodonte, o lendário tubarão pré-histórico que viveu há milhões de anos.
Nas histórias, o Dandan é descrito como “o maior de todos os peixes e o mais feroz dos nossos inimigos”. É dito que sua força e tamanho superam qualquer criatura terrestre e que ele poderia engolir um camelo ou um elefante em uma única mordida.
Uma característica notável do Dandan é o óleo de seu fígado, considerado milagroso. Segundo as lendas, um unguento feito com esse óleo permite que a pessoa que o utiliza respire debaixo d’água. Os Abdullahs nas histórias descobrem esse poder e conseguem sobreviver nas profundezas do mar graças a ele.
Shadhavar: A Melodia Encantadora
O Shadhavar é uma criatura popular no folclore persa, descrita como semelhante a uma gazela, mas com uma peculiaridade que a torna única: um único chifre oco com 42 cavidades (ou até 72 em algumas versões), que cria uma melodia hipnotizante quando o vento passa por ele. Essa melodia mágica faz qualquer um parar para ouvir, mas, se o vento mudar de direção, o som melodioso se transforma em um lamento melancólico que causa tristeza.
Algumas descrições retratam o Shadhavar como um animal de seis pés de altura, magro, com manchas escuras no rosto, dando a impressão de que lágrimas escorrem de seus olhos. Enquanto o zoólogo egípcio do século XIV, Kamal al-Din al-Damiri, alegava que o Shadhavar era carnívoro, outros sugerem que ele o confundiu com o Siranis, uma criatura similar encontrada no Afeganistão, que também emitia sons musicais, mas era ferozmente predadora.
Werehyena: A Hiena Metamorfa
O Werehyena é uma criatura metade humano, metade hiena, que pode se transformar de um estado para o outro à vontade, sem precisar da lua cheia. Lendas de várias culturas — desde a Grécia Antiga até a Arábia e a Pérsia — descrevem esse ser como um predador noturno que ataca suas vítimas sugando sangue, de forma semelhante aos vampiros.
Comum no folclore africano, o Werehyena em sua forma humana costuma assumir profissões práticas, como ferreiro, lenhador ou curandeiro. Em países como Sudão, Tanzânia e Marrocos, essas criaturas são conhecidas por hipnotizar suas vítimas com um olhar penetrante, colocando-as em um estado de transe antes do ataque.
Al-Miraj: O Coelho com Chifre
O Al-Miraj é uma criatura híbrida descrita como um grande coelho amarelo com um chifre negro em espiral de cerca de 30 centímetros. Apesar de parecer saído de um conto de Lewis Carroll, essa criatura fantástica é mencionada em lendas árabes e descrita pelo escritor Al-Qazwini.
De acordo com algumas histórias, o Al-Miraj vivia em uma ilha mítica no Oceano Índico chamada Jazira al-Tennyn, ou Ilha dos Dragões. Diz-se que quando Alexandre, o Grande, derrotou um dragão feroz alimentando-o com touros envenenados, os habitantes da ilha deram ao conquistador o Al-Miraj como presente de gratidão.
Embora pareça inofensivo, o Al-Miraj é carnívoro e usa seu chifre para empalar presas muito maiores do que ele antes de devorá-las. Reza a lenda que a única forma de derrotar o Al-Miraj é com um feitiço lançado por uma bruxa de confiança.
Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://www.middleeasteye.net/discover/middle-east-mythical-beasts-where-find-them
André Pimenta é um apaixonado por mitologia, folclore e histórias e estórias fantásticas. Contribuidor dedicado do Portal dos Mitos. Com uma abordagem detalhista, ele explora e compartilha os mistérios das lendas sobre seres e criaturas fantásticas do Brasil e do mundo.