A Deusa do Amor e da Beleza: Um Símbolo que Perdura por Milênios na História Humana

Artefatos desenterrados em diversos sítios arqueológicos na Síria revelam a criatividade dos antigos artistas de várias eras e culturas ao retratar uma figura que simboliza dois valores profundamente enraizados na humanidade: Ishtar, Inanna, Afrodite, Vênus, a deusa do amor e da beleza.

A Origem de Afrodite e o Significado de Seu Nome

Segundo Mahmoud al-Sayyed, especialista em línguas antigas e inscrições da Direção Geral de Antiguidades e Museus, o nome Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza – posteriormente venerada pelos romanos como Vênus – significa “flor encantada”. Afrodite foi uma inspiração para todos os artistas e escultores de sua época, que competiam para dar vida à beleza feminina em mármore e mosaicos, cada um trazendo sua própria interpretação da forma feminina idealizada.

Influências do Oriente e a Conexão com Ishtar

Pesquisadores acreditam que a veneração de Afrodite tem origens orientais, com evidências indicando que suas características são quase idênticas às da deusa Ishtar, divindade associada à fertilidade, amor e sexualidade na cultura semítica oriental, especialmente nas civilizações acádica, assíria e babilônica. Muitos especialistas sugerem que Ishtar é a fonte de inspiração para Afrodite e para os mitos que a rodeiam.

Enquanto alguns defendem que as raízes de Afrodite remontam a divindades primordiais, como a deusa da terra – cuja imagem esculpida é conhecida como Vênus de Willendorf –, outros acreditam que foi na Mesopotâmia e no Levante que sua figura começou a tomar forma como um ícone perene da feminilidade e beleza, quando era cultuada como Ishtar.

A Representação da Deusa do Amor e Beleza

Em suas diversas representações ao longo dos séculos, a deusa do amor e da beleza é retratada como uma mulher graciosa e voluptuosa, de olhos brilhantes. Seu sorriso é capaz de trazer paz e tranquilidade ao coração de quem o contempla, e, ao passar, ela faz com que fontes brotem, árvores frutifiquem e flores desabrochem, espalhando seu perfume.

A Importância Cultural e as Obras Raras de Ishtar

Al-Sayyed destaca que a Síria abriga centenas de estátuas, desenhos e baixos-relevos da deusa Ishtar, sendo alguns desses considerados verdadeiras obras-primas raras. Museus renomados, como o Museu Nacional de Damasco e os museus de Aleppo, Palmira e Raqqa, guardam essas esculturas, algumas das quais datam do terceiro milênio a.C.

Na aurora do segundo milênio a.C., o culto a Ishtar se expandiu por toda a Síria, e os artistas começaram a representá-la de forma ainda mais bela e sedutora, esculpindo sua imagem em joias de ouro e prata.

Descobertas Arqueológicas: Joias da Idade do Bronze

Entre as descobertas mais notáveis da Idade do Bronze estão duas peças de joias de ouro que trazem a imagem de Ishtar. Encontradas em Ras Shamra, um importante sítio arqueológico na costa síria, essas joias são atualmente preservadas no Louvre, revelando a importância e o legado duradouro da deusa.

Descobertas Arqueológicas e Representações de Ishtar

Uma estátua de basalto da deusa Ishtar, vestindo um manto bordado, foi desenterrada no Templo de Ain Dara, localizado na cidade de Aleppo, no norte da Síria. Datada da Idade do Ferro, no primeiro milênio a.C., a peça é uma rara representação da deusa. No mesmo local, foram descobertas outras duas pequenas figuras da deusa, datadas do século VI a.C., confeccionadas com argila cozida de um tom rosado e notável habilidade.

A Evolução de Ishtar: Deusa do Amor e da Guerra

Com o passar dos séculos, Ishtar evoluiu de uma deusa do amor para uma divindade que simbolizava tanto o amor quanto a guerra. Esse dualismo persistiu após o nascimento de Cristo, como evidenciado em um artefato preservado no Museu Nacional de Damasco: um baixo-relevo que retrata Ishtar sentada, com uma coroa na cabeça e segurando uma de suas tranças com a mão esquerda. Esta obra-prima foi encontrada em um sítio arqueológico de Palmira, destacando a riqueza e complexidade de sua imagem na antiguidade.

Al-Sayyed explica que muitos estudiosos consideram evidente que os escultores gregos foram inspirados pela arte mesopotâmica e levantina, absorvendo tanto as técnicas de escultura quanto os padrões de beleza que surgiram na Síria e se espalharam para os romanos através de regiões como Sicília, Itália Grega, Campânia e Alexandria.

A Lenda Grega de Afrodite e Suas Conexões com Ishtar

Seguindo para a mitologia grega, Al-Sayyed descreve o mito que narra o nascimento de Afrodite em Chipre. De acordo com a lenda, a deusa surgiu da espuma do mar após o titã Cronos castrar seu pai, o deus do céu Urano, e gotas de sangue e sêmen caírem no oceano, formando uma espuma que se partiu antes do amanhecer, revelando uma mulher de beleza incomparável, pele alva e cabelos longos. Esse nascimento mitológico simboliza a relação íntima de Afrodite com o mar e com a fertilidade.

Os antigos gregos acreditavam que Afrodite era uma protetora dos marinheiros e também uma deusa patrona dos guerreiros em Esparta, o que lembra as características de Ishtar, que também abrangia os domínios do amor e da guerra. Com o tempo, no entanto, essa dualidade de Afrodite começou a se inclinar mais para seu papel como deusa do amor.

A Transformação de Afrodite e a Influência da Mitologia Grega

Nos poemas de Homero, Afrodite é descrita como filha de Zeus e Dione, neta de Oceano, sendo conhecida como uma deusa que não participava das guerras, pois seu poder se estendia sobre os corações dos deuses e dos mortais. Homero descreve sua habilidade de conquistar qualquer um com seus encantos, exceto as deusas Hera, Héstia, Atena e Ártemis. Com o tempo, Afrodite deixou de ser associada aos guerreiros, papel que foi assumido por Atena, deusa da coragem e da guerra, que auxiliava heróis míticos gregos como Aquiles e Odisseu.

A Transformação de Afrodite em Vênus e Sua Influência na Cultura Romana

Em Roma, Afrodite foi reverenciada como Vênus, uma das deusas mais adoradas e influentes entre as divindades romanas. Representando o amor, a beleza e a fertilidade, Vênus estava presente em muitas cerimônias religiosas e era a patrona dos casamentos, sendo homenageada em ritos e celebrações. Os romanos acreditavam que Vênus nascera do mar e viera à costa de Chipre em uma concha.

Com a expansão do Império Romano pela Síria, a deusa retornou sob a figura de Vênus, como evidenciado em artefatos encontrados em sítios arqueológicos. Al-Sayyed destaca uma descoberta na província de Sweida, ao sul da Síria, onde um mosaico romano mostra o nascimento de Vênus em uma ilha, emergindo de uma concha. Um mosaico similar foi encontrado em Hasaka, no extremo nordeste da Síria, representando Vênus rodeada por golfinhos e criaturas marinhas míticas.

A Conexão Entre Vênus e o Planeta Brilhante do Céu

Um fato curioso que reforça a ligação entre Vênus e Ishtar é que, muito antes de o planeta Vênus receber esse nome, os antigos babilônios já o associavam à deusa, chamando-o de “rainha brilhante do céu”. Essa referência aparece na Tábua de Vênus de Ammisaduqa, um registro de observações astronômicas que data do primeiro milênio a.C.

Mitos Populares e a Influência de Afrodite em Outras Divindades

Além de seu nascimento, outro tema amplamente explorado por artistas foi o relacionamento de Afrodite com outros deuses, especialmente suas relações amorosas, que frequentemente provocavam rivalidades entre as divindades. Zeus, irritado com a disputa entre os deuses por Afrodite, decidiu casá-la com Hefesto, o deus ferreiro, que era descrito como pouco atraente e manco.

A conexão entre Afrodite e seu filho Eros (conhecido como Cupido na mitologia romana) também foi representada em várias peças antigas. Muitas dessas representações mostram Afrodite segurando uma maçã, possivelmente uma alusão ao julgamento de Páris e à Guerra de Troia, enquanto Eros exibe suas flechas do amor. Esse símbolo de Eros e suas flechas tornou-se uma imagem comum que representa o amor nas culturas ao redor do mundo.

Um exemplo dessa cena pode ser visto no Museu Nacional de Damasco, que exibe uma pequena estátua de bronze do primeiro século d.C. que retrata Vênus nua sobre uma base, colocando uma coroa, segurando um espelho em sua mão esquerda e carregando Cupido em sua outra mão, representado como um bebê com asas.

O Amor Entre Afrodite e Ares: Um Motivo Popular na Arte Antiga

A relação amorosa entre Afrodite e Ares, o deus da guerra e pai de Eros, também inspirou muitos artistas antigos. Uma obra notável é um mosaico do ano 240 d.C., encontrado em um dos palácios do imperador Filipe, o Árabe, em Shahba. Esse mosaico, feito de calcário colorido, mostra Afrodite com uma auréola sobre a cabeça, enquanto uma serva lhe coloca uma coroa de louros. Ao seu lado está Ares, com Eros ao lado segurando suas armas. Esta obra está preservada no Museu de Shahba.

A Influência Duradoura de Vênus na Arte e na Cultura

Segundo Al-Sayyed, escultores gregos e romanos utilizaram basalto, mármore, madeira, marfim, osso e metais como ouro, bronze e prata para criar estátuas e representações da deusa do amor, beleza e fertilidade. Um pequeno exemplar encontrado em Latakia, esculpido em osso, está em exposição no museu local, mostrando a habilidade e o respeito com que essa figura era tratada.

Apesar do declínio do culto à deusa após a adoção do cristianismo pelo Império Romano, Vênus continuou a influenciar a arte. Seu nascimento inspirou grandes mestres ao longo da história, como Sandro Botticelli, William-Adolphe Bouguereau e Alexandre Cabanel, que criaram obras-primas com base nesse mito. Sua relação com Ares, conhecido pelos romanos como Marte, também foi retratada por artistas como Botticelli e Jacques-Louis David.

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