A Deusa Pagã Por Trás da Celebração da Páscoa

Por Que Só Falamos em “Easter” em Inglês?

Em várias línguas, a celebração da ressurreição de Jesus é chamada de “Pascha” ou variantes dessa palavra. Mas por que os falantes de inglês usam o termo “Easter”? Curiosamente, a explicação envolve uma figura feminina – e não uma mulher qualquer, mas uma deusa.

Quem Era Ēostre, a Deusa Ligada à Páscoa?

De acordo com o monge inglês Beda, conhecido como o “pai da história inglesa” nos séculos VII e VIII, os antigos pagãos na Inglaterra chamavam o mês de abril – período que marca a ressurreição de Jesus – de “Ēosturmōnaþ”, que significa o “Mês de Ēostre” em inglês antigo.

Em sua obra De Temporum Ratione (ou A Contagem do Tempo), Beda menciona que o feriado cristão de abril era nomeado em homenagem a uma deusa pagã chamada Ēostre, em cuja honra festivais eram realizados durante aquele mês.

Ēostre: Deusa da Fertilidade, Aurora e Luz

Estudiosos geralmente associam Ēostre à fertilidade, à aurora e à luz. Essa ligação com a aurora pode ajudar a entender o vínculo linguístico entre Ēostre e a palavra “east” (leste), onde o sol nasce, simbolizando o começo de um novo dia e, possivelmente, uma nova vida.

A Polêmica Sobre a Existência de Ēostre

Beda, além de acadêmico, era também missionário cristão, e sua menção à deusa Ēostre (ou Ostara) é única em textos históricos. Isso gerou suspeitas ao longo dos séculos, levando muitos a acreditarem que ele havia inventado essa figura. Foi apenas na década de 1950 que evidências arqueológicas surgiram, dando credibilidade à existência dessa deusa na Inglaterra. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Leicester investigaram a ligação entre nomes de lugares e Ēostre, fortalecendo ainda mais a versão apresentada por Beda.

O Significado de “Páscoa” em Outras Culturas e Religiões

Em quase todas as outras línguas, o feriado é conhecido por uma variação de “Pesach”, termo hebraico para a Páscoa. No período em que o cristianismo estava em formação, o hebraico e o aramaico eram amplamente usados na Galileia, onde Jesus realizou seu ministério. No aramaico, a palavra usada para o feriado é “Pascha”.

De acordo com o professor Steven Fassberg, da Universidade Hebraica, o termo hebraico “pesach” é um substantivo, mas também pode ser flexionado como verbo, significando “pular” ou “poupar”, dependendo do contexto bíblico. Os autores da Septuaginta, tradução grega da Bíblia hebraica concluída em 132 a.C., utilizaram o sentido espiritual da palavra, como em “salvar” ou “ocultar”. Essa versão grega foi amplamente adotada pelos primeiros cristãos do Império Romano.

A Influência do Antigo Testamento e o Motivo de Páscoa

No Evangelho de João, escrito em grego entre o primeiro e o segundo século d.C., o tema da Páscoa é usado para descrever Jesus como o “cordeiro de Deus”, em alusão ao sacrifício pascal realizado no Monte do Templo em Jerusalém. Curiosamente, o substantivo hebraico “Pesach” foi transmitido ao aramaico, onde assumiu um novo significado: a celebração cristã da ressurreição de Jesus. No hebraico moderno, o termo aramaico “Pascha” foi readotado para referir-se à Páscoa cristã, enquanto a Páscoa judaica mantém a denominação original de “Pesach”.

Por Que Um Feriado Cristão Foi Nomeado em Homenagem a uma Deusa Pagã?

É curioso pensar que uma das duas datas mais importantes do calendário cristão tenha recebido o nome de uma divindade pagã graças aos anglo-saxões. E mais curioso ainda é o fato de que esse nome não apenas foi aceito, mas também se tornou o termo padrão para a celebração da Páscoa em todo o mundo anglófono.

A Adoção do Nome Pagão na Tradição Cristã

De acordo com a obra Mitologia Alemã, escrita em 1835 por Jacob Grimm, “Essa Ostarâ, assim como a Ēostre anglo-saxã, deve ter representado uma divindade superior na religião pagã, cujo culto era tão arraigado que os professores cristãos toleraram o nome e o aplicaram a uma de suas maiores celebrações.” Em outras palavras, os líderes da Igreja primitiva optaram por uma abordagem de adaptação, usurpando uma celebração existente para dar-lhe um novo sentido cristão.

Essa adaptação não é exclusiva da Páscoa. Na mesma obra, A Contagem do Tempo, Beda descreve outra celebração pagã anglo-saxã, chamada de “Mōdraniht” – a “Noite das Mães” –, realizada em 24 de dezembro, data que posteriormente se tornou a véspera de Natal na tradição cristã.

A Reação Cristã e o Esforço de Rebatizar a Páscoa

Apesar de muitos cristãos sentirem-se desconfortáveis com a origem pagã do nome Páscoa, outros adotam uma postura mais filosófica e buscam alternativas. Em algumas comunidades, o termo “Easter” vem sendo substituído por “Dia da Ressurreição” como uma forma de honrar o significado cristão da data.

Ainda assim, hoje em dia, milhões de cristãos ao redor do mundo celebram a Páscoa com orações e uma refeição festiva, que, em muitas famílias, inclui o famoso “cordeiro pascal” feito com a receita especial da avó.

Este artigo foi desenvolvido com base no conteúdo do site: https://www.timesofisrael.com/the-pagan-goddess-behind-the-holiday-of-easter/

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